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Em carta anônima publicada pelo The Sun, jogador da Premier League se assume homossexual

  • Raffa Carolina
  • 11 de jul. de 2020
  • 6 min de leitura

O jogador neste momento preferiu não se assumir publicamente por conta de ser um assunto ainda considerado tabu no futebol masculino


Foto: Divulgação/ Redes Sociais.

Uma carta de um jogador que se assume gay foi publicada na edição deste Sábado (11) do jornal inglês The Sun. A mesma não se encontra assinada, pois o jogador prefere neste momento não se identificar com medo de retaliações. Ele espera que com este texto, muitas pessoas e, principalmente jogadores se conscientizem sobre a questão da homossexualidade, que ainda é considerada um tabu, principalmente quando se trata do futebol masculino, onde os homens devem sempre se mostrar fortes e viris o tempo todo.

A motivação de escrever esta carta vem com o apoio da Fundação Justin Fashanu, entidade que é administrada pela sobrinha do ex-jogador Justin Fashanu, o primeiro jogador a se assumir gay na década de 1990 na liga inglesa de futebol. A sobrinha do ex-jogador, Amal Fashanu, tem como o propósito com a entidade ajudar as pessoas a lutar contra a homofobia e a discriminação sexual.

Vale ressaltar que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQI+ no mundo: de acordo com relatório divulgado pelo Grupo Gay da Bahia informa que 329 LGBT+ tiveram morte violenta em 2019 no Brasil, vítimas da homotransfobia. Foram um total de 297 homicídios e 32 suicídios. Isso equivale a 1 morte a cada 26 horas no país. Comparado ao ano de 2018, houve uma redução de 26%, no qual houve 420 casos registrados.

De acordo com dados mais recentes, a população LGBTQI+ equivale à 10% do número de habitantes do Brasil, ou seja, estima-se que 20 milhões de pessoas façam parte da população LGBT+ no país.

Em 2019, no dia 13 de Junho foi um dia histórico para a população LGBTQI+ no Brasil: foi aprovado por 8 votos a 3 no STF (Supremo Tribunal Federal) a criminalização da homofobia e da transfobia. Com a decisão, atos preconceituosos contra homossexuais e transexuais passaram a configurar como crime, podendo haver pena de 1 a 3 anos, além de aplicação de multa

Justin Fashanu e o seu pioneirismo no mundo do futebol

Justin Fashanu foi um jogador inglês que iniciou a sua carreira pelo Norwich City, da Inglaterra aos 17 anos. Depois de passar por outros times da Premier League (a liga inglesa) em 1990 em entrevista ao The Sun se assumiu gay, se tornando até hoje o primeiro e o único jogador da primeira divisão inglesa a fazer isto. Um ato de grande coragem por parte de Justin.

Após assumir que era homossexual, Justin foi rejeitado por diversos ex-companheiros de equipes e a sua carreira entrou em declínio, só recebendo convites de pequenos clubes para continuar a jogar. Em 1998, aos 37 anos, após acusações de agressão sexual por parte de uma jovem de 17 anos, se suicidou, quando atuava nos Estados Unidos.

Para evitar que mais episódios como o de Justin ocorram, o jogador decidiu publicar a carta após procurar a Fundação Justin Fashanu para poder lidar com este segredo e o sentimento de culpa por não poder se assumir publicamente.

Veja abaixo a Carta do jogador, traduzida do The Sun, que foi publicada pela ESPN no Brasil:

" Como uma criança, tudo o que eu sempre quis era ser um jogador de futebol. Eu não estava interessado em sair bem na escola. Em vez de ficar em casa, eu gastava cada minuto livre com uma bola.

No final, valeu a pena.

Ainda hoje eu tenho que me beliscar quando eu voi disputar uma partida aos fins de semana diante de dezenas de milhares de pessoas.

No entanto, há algo que me diferencia da maioria dos outros jogadores da Premier League.

Eu sou gay.

Escrever isso é um grande passo para mim.

Apenas meus familiares e um grupo seleto de amigos sabem da minha sexualidade. Não me sinto pronto para compartilhá-lo com minha equipe ou meu tecnico.

Isso é difícil. Eu passo a maior parte da minha vida com esses caras e, quando entramos em campo, somos um time.

Mas, ainda assim, algo dentro de mim torna impossível que eu seja aberto com eles sobre a minha sexualidade.

Espero muito que um dia eu consiga dizer.

Desde os 19 anos eu soube que eu era gay. Como me senti tendo que viver assim?

Dia a dia, pode ser um pesadelo absoluto.

E está cada vez mais a minha saúde mental.

Eu me sinto preso e meu medo é que divulgar a verdade sobre o que sou vai piorar as coisas.

Portanto, embora meu coração sempre me diga que preciso fazê-lo, minha cabeça sempre diz a mesma coisa: Por que arriscar tudo?".

Tenho a sorte de ganhar um salário muito bom. Eu tenho um carro bonito, um guarda-roupa cheio de roupas de grife e posso comprar tudo o que eu quero para minha família e amigos.

Mas uma coisa que me falta é companheirismo.

Estou em uma idade em que gostaria de estar em um relacionamento. Mas por causa do trabalho que faço, o nível de confiança em ter um parceiro de longo prazo deve ser extremamente alto.

Portanto, no momento, evito qualquer tipo de relacionamento.

Espero muito que em breve encontre alguém que eu ache que seja quem eu espero.

A verdade é que eu ainda não acho que o futebol esteja pronto para o jogador sair do armário.

O jogo precisaria fazer mudanças radicais para que eu pudesse dar esse passo.

A Associação Profissional de Jogadores diz que está pronta para ajudar um jogador a assumir e disse que oferecerá aconselhamento e apoio a quem precisar.

Se eu precisar de um conselheiro, posso ir e marcar uma sessão com ele sempre que quiser.

O que aqueles que estão executando o jogo precisam fazer é educar fãs, jogadores, gerentes, agentes, donos de clubes (basicamente todos os envolvidos no jogo).

Se eu der esse passo, gostaria de saber que seria apoiando em cada passo do jogo. Hoje, eu não sinto que seria apoiado.

Gostaria de não ter que viver minha vida dessa maneira.

Mas a realidade é que ainda há uma enorme quantidade de preconceito no futebol.

Existem inúmeras vezes que ouvi cantos homofóbicos e comentários de torcedores dirigidos a ninguém em particular.

Estranhamente, isso realmente não me incomoda durante as partidas. Estou muito concentrado em jogar.

É quando eu volto para o avião ou para os treinos e tenho tempo para pensar que isso chega até mim.

Da forma como as coisas estão, meu plano é continuar jogando enquanto eu me sentir capaz até me aposentar.

Foi ótimo no mês passado ver Thomas Beattie levantar a mão e admitir ser gay. Mas o fato de ele ter que esperar até a aposentadoria diz tudo o que você precisa saber.

Os jogadores de futebol ainda estão com muito medo de dar o passo enquanto jogam.

No ano passado, recebi apoio da Fundação Justin Fashanu para lidar com o impacto que isso tudo tem sobre minha saúde mental.

É difícil colocar em palavras o quanto a Fundação ajudou. Isso me fez sentir apoiado e compreendido, além de me dar a confiança para ser mais aberto e honesto comigo mesmo, especialmente.

Sem esse apoio, eu realmente não sei onde estaria agora.

Sei que pode chegar ao ponto em que eu ache impossível continuar vivendo uma mentira.

Se o fizer, meu plano é me aposentar cedo e sair. Eu poderia estar jogando fora anos de uma carreira lucrativa. Mas você não pode colocar um preço em sua paz de espírito.

E não quero viver assim para sempre".

O mês de Junho é conhecido como o ' Mês do Orgulho LGBT+', no qual diversas ligas e clubes fizeram a homenagem a toda a população LGBT+, mas será que tudo isso vem da boca para fora por parte dos clubes e ligas de futebol? Por que não normalizar algo que diz sobre a forma de amar de uma pessoa?

Por que jogadores como este, que tem de se esconder ou não se identificar por conta de medo de sofrer retaliações por parte de torcedores, colegas de equipe e da própria equipe. Até quando os jogadores terão de ficar escondidos 'dentro do armário' durante toda a sua carreira e muitas vezes ter de se aposentar antes e parar de fazer o que mais gosta e mais ama por ter de se esconder, ter de se afetar física e principalmente, psicologicamente e se sentirem presos em relação a algo que não tem culpa de ser. Isso diz sobre a SUA FORMA DE AMAR e não cabe a ninguém julgar e, sim dar todo o apoio necessário.

A homofobia deve ser condenada e repudiada por todos, e, se quer de uma vez por todas ajudar nesta causa, repudie os cantos homofóbicos das torcidas. As pessoas devem começar a normalizar a situação, contudo se o topo de toda a estrutura não mudar, e, temos de quebrar este tabu de vez.

Para que possamos em um futuro muito próximo ver que jogadores homossexuais não sejam julgados pela sua forma de amar e, sim pela atuação que possuem em campo. Acredito que a partir deste último mês de Junho e este jogador que preferiu não se identificar seja o primeiro passo para um lindo futuro no mundo do futebol, no qual todos possam ser felizes e sem medo de assumir por retaliações e, assim continuar fazendo o que mais gosta: de jogar futebol.


 
 
 

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