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26 de Julho de 2007: o dia em que o Brasil parou para reverenciar a seleção feminina

  • Raffa Carolina
  • 9 de mai. de 2020
  • 5 min de leitura

Neste domingo(10), a partir das 16h a TV Globo exibe um jogo histórico para o futebol feminino no Brasil: a final do Pan-americano entre Brasil e Estados Unidos

Foto: Divulgação/ CBF

A seleção feminina do quase. Assim que é conhecida a geração de 2007 da seleção brasileira feminina. Tínhamos jogadoras talentosas, mas pouco investimento por parte da CBF. Os Estados Unidos vieram com um time sub-20 (um time B), mas isso não tira todo o mérito dessas jogadoras que enfrentaram diversas barreiras no próprio país para alegrar todo um Maracanã, que tinha 70 mil pessoas no 12h.

Toda a confiança de um Maracanã foi depositado após a eliminação da seleção masculina e por bons resultados da feminina: 4 a 0 no Uruguai, 5 a 0 na Jamaica, 10 a 0 no Equador, 7 a 0 no Canadá só na primeira fase, na semifinal foi 2 a 0 no México, uma seleção com uma campanha impecável: foram 33 gols feitos e nenhum sofrido, 100% de aproveitamento.

As jogadoras entraram em um Maracanã antigo, onde não haviam luzes no túnel e assim que entraram em campo, ficaram em choque e tiveram de contar uma com o apoio das outras para conseguir se concentrar no jogo, mas todo o choque se tornou uma chuva de gols: dois de Marta, dois de Cristiane e um de Daniela Alves, que terminou em cinco a zero.

Em entrevista ao blog Dona do Campinho, do GloboEsporte.com, Aline Pellegrino, atual diretora de futebol feminino da Federação Paulista de Futebol (FPF), comentou sobre esta final no Maracanã: "Você chega duas horas e meia antes, se enfia no vestiário e não vê mais o que está acontecendo. Aquecimento não lembro se fizemos no campo, mas mesmo assim o estádio lota em cima minutos antes. O Maracanã não tinha sido reformado. Aquele túnel escuro que você fica ombro a ombro e não consegue ter uma noção. Aí a gente vai subindo, começa a entrar bem devargazinho, aquele túnel apertado, escuro. Começa a subir a escada, vai olhando o estádio e a hora que você vê, fala: "caraca". Foi surreal".

Mas antes de toda a campanha do Brasil, a seleção passou por alguns problemas: não podendo contar com as jogadoras mais experientes, as Canarinhas só conseguiram a classificação para a Copa do Mundo de 2007 (que terminaria com as brasileiras vice-campeãs, perdendo por 2 a 0 para a Alemanha), na repescagem.

Além do Brasil não contar com uma liga profissional de futebol feminino. Isso só foi ocorrer em 2013, com a criação do Campeonato Brasileiro A1, somente voltado para o desenvolvimento da modalidade. E, também as jogadoras contavam com uma estrutura muito limitada na própria Granja Comary: elas tinham acesso somente a uma academia com equipamentos mais velhos e já bem desgastados.

"Eu estava numa fase que era muito sacrificante e tinha poucos recursos. Eu tinha decidido que se eu não fosse para fora, eu ia parar. Aqui no Brasil estava realmente muito difícil. Eu fui para o Internacional, porque os clubes de São Paulo estavam fechando seus departamentos e eu já estava um pouco pensativa, né? Aquele momento que você escolhe se deve continuar jogando e acreditar naquele sonho ou você deve parar para estudar", declarou Rosana, atualmente jogadora do Palmeiras, ao blog do Dibradoras.


50 DIAS EM CALDAS NOVAS


O diferencial naquela época foi a reunião de todas as jogadoras se reuniram em Caldas Novas, uma cidade do estado de Goiás. E isso ajudou as jogadoras a criarem um entrosamento maior, facilitando tanto para o Pan-americano quanto para a Copa do Mundo, competição que viria logo a seguir.


BRASIL X ESTADOS UNIDOS: O QUE HÁ DE DIFERENTE?


Dois países com jogadoras potenciais e de puro talento. Mas enquanto o Brasil é conhecido como o país do futebol no masculino, os Estados Unidos é no feminino. Desde cedo, as garotas começam a jogar futebol pensando em um dia conseguir uma bolsa em uma boa faculdade ou quem sabe chegar a seleção principal, algo que é muito disputado em um país que conta com milhares de jogadoras em diversas categorias e diversos times.

O que diferencia um país do outro é uma palavra: INCENTIVO. Enquanto o Brasil tem diversas novas jogadoras com potencial para estar no Brasil, elas não são incentivadas, pois muitas vezes, não tem chance em clubes, que contam até 2020 com uma estrutura amadora e na própria seleção, que insiste em manter alguns nomes que não tem mais vaga e nem mais disposição para jogar.

Além da falta de incentivo, as categorias de base estão a passos lentos, algo que acompanha a modalidade no Brasil: para se ter uma ideia a primeira competição de base a nível nacional foi realizada no ano passado e, ainda por cima de forma rápida e sem realmente pensar nas atletas. Muitas delas que iniciaram recentemente na modalidade encararam até seis jogos em dez dias, algo cruel e inpensável se tratando de uma competição de base masculina.

A Federação Americana não pensa na modalidade como forma de lucro a curto prazo e sim de que forma pode-se encontrar novos talentos e fortalecer cada vez mais o futebol feminino, e, com isto notamos a diferença e a hegemonia da seleção americana. Não é a toa que elas ganharam quatro títulos mundiais e sempre chegam às semis, não saindo com menos de um quarto lugar. Além de serem bicampeãs olímpicas.

O Brasil na modalidade tem um grande potencial, principalmente de revelar novos talentos no mundo, mas deve-se tratar o futebol feminino com a seriedade e a imparcialidade que merece. Sem que dirigentes pensem no lucro que terão em investir em x ou y. O resultado alcançado pelos Estados Unidos não foi do dia da noite e, sim com um longo planejamento e pensando no que seria melhor para os clubes e para as atletas.

Temos de parar de ter este pensamento do futebol brasileiro de pensar em resultados rápidos e começar a levar a sério e apoiar a modalidade da forma como merece.


QUAL É O RECADO QUE A SELEÇÃO DE 2007 PODE DEIXAR PARA AS NOVAS GERAÇÕES?


Algumas atletas como Marta, Formiga e Cristiane, ainda continuam jogando e esbanjando talento por onde passam. Mas, um recado que deixaram naquele dia 26 de Julho de 2007 foi repetido no ano passado nas Oitavas de Final da Copa do Mundo, que contou com a eliminação do Brasil diante da França de virada.

Elas só querem ser mais valorizadas e querem mais investimento e melhora da estrutura, tratá-las como realmente devem. Esta seleção nos mostrou que talento pode trazer bons resultados e títulos, mas a falta de investimento faz com que sejamos fadados ao fracasso, o que aconteceu logo em seguida e não tivemos mais tantos bons resultados como aquele.

Temos de começar a ter uma liga mais forte e competitiva, além de mais categorias de base, pois Marta, Cristiane e Formiga não serão eternas e está na hora de uma nova geração com inúmeros talentos estrear. E, as confederações, federações e os próprios clubes principalmente devem ter a visão a longo prazo e não pensar no futebol feminino como um gasto e sim como um investimento para milhares de garotas que querem ser jogadoras de futebol.


 
 
 

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